quarta-feira, 1 de abril de 2009

Catavento: A extensão do conhecimento em uma concepção moderna de museu


O ensino de ciências para crianças e adolescentes tem despertado cada vez mais a atenção de governantes de todo o mundo. E no Brasil não faltam motivos para o poder público se preocupar com a questão. Recentemente, os resultados dos brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) - a mais completa avaliação internacional para a educação - mostra o Brasil em 52º na categoria ensino de ciências. O Brasil também tem observado uma queda na busca pela carreira científica: na maior universidade pública do país - a USP - a procura por cursos de formação de professores, incluindo os de ciências (como matemática, química e física), declinou à metade no último vestibular.

Diante desse cenário, especialistas em educação enfatizam a necessidade de incentivar os jovens para as ciências, de preferência de maneira interativa, lúdica e divertida.

O Museu Catavento, inaugurado na última quinta-feira (26) pelo Governador de São Paulo, José Serra, é uma resposta pública para melhorar tanto o ensino de ciências, quanto o interesse dos jovens pela carreira científica. Localizado no Palácio das Indústrias, edifício histórico dos anos 1920, o espaço tem oito mil metros quadrados de atrações e 250 instalações diferentes. O objetivo é aprimorar o ensino das ciências para estudantes de diversas idades, bem como contribuir para o estímulo à curiosidade, à criatividade à resolução de problemas e ao raciocínio lógico.

A proposta é que uma visita ao museu seja tão estimulante quanto a um parque de diversões. "O catavento faz girar emoções, ideias, sentimentos, e se inspirou nos principais museus do mundo no gênero", afirmou o Governador José Serra na solenidade de inauguração do novo espaço.

O presidente do Conselho da Organização Social de administração da Catavento Cultural e Educacional, Sérgio Silva de Freitas, ressaltou que o objetivo do Catavento é mostrar aos jovens um caminho que pode ser seguido no futuro em aspectos profissionais. "O Catavento pretende melhorar o ensino de ciência, em consonância com a educação regular", destaca.

No mesmo sentido, o Secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt, que também esteve presente à inauguração, descreveu a importância deste espaço. Para ele, um museu moderno como esse, "com características que permitem aos jovens não só ver, mas interagir com as formas de conhecimento representadas nos diferentes objetos e nas diferentes situações de conhecimento" funciona, entre outras coisas, como uma motivação simpática para que os jovens se interessem pelas questões da cultura cientifica. "Desse modo, os jovens criam uma disposição afetiva bastante positiva em relação à ciência e ao conhecimento científico", completa Vogt.

O Catavento é fruto de uma parceria entre as Secretarias de Estado de Cultura e da Educação e será administrado pela Organização Social Catavento Cultural e Educacional, sob supervisão da Secretaria da Cultura.

Meteoritos e homens virtuais
O Catavento se divide em quatro seções: universo, vida, engenho e sociedade. A seção ‘universo' permite que o visitante toque um meteorito de verdade, de seis mil anos, mostra o universo e as viagens do homem à lua, o sistema solar, o céu e a Terra. A seção ‘vida' explora a biodiversidades, bioma, aves do Brasil, evolução, homem virtual, genoma e mundo microscópio. O ‘engenho' chama atenção pela sala das ilusões, mecânica, eletromagnetismo, calor, fluido e óptica. A seção ‘sociedade', traz discussões atuais sobre o desenvolvimento do ser humano, destaca os temas de ecologia, jogos de poder, educação para resultados, arte cinética, nanotecnologia e questões ligadas a sexualidade, como por exemplo, prevenção da gravidez e DSTs.

Dezenas de fibras ópticas simulam o céu de uma noite estrelada, botão acionado na Bandeira do Brasil para descobrir qual estrela corresponde a determinado estado, caverna que reproduz as formações e sons comuns, uma brincadeira com as cores, estruturas tridimensionais do corpo humano, instalações com 700 borboletas amazônicas, canto dos pássaros, instalação ‘eletromagnetismo' que deixam, literalmente, os cabelos em pé, e muitas outras atividades neste universo.

Apoio das universidades públicas
O museu conta com um importante apoio das universidades estaduais paulistas. O Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, forneceu materiais e apoio técnico para toda a área de ‘Universo'. A fundação Faculdade de Medicina da mesma universidade participa com a didática para a explicação das maquetes da instalação "Homem Virtual", além dos filmes especializados em educação sexual projetados na mesma seção. A Escola Politécnica também da USP desenvolveu o passeio digital, uma viagem em 3D pelas paisagens do Rio de Janeiro.

O projeto contou ainda com a participação do Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O museu instalou no Catavento uma réplica da NanoAventura - uma exposição interativa sobre nanociência e nanotecnologia feita por meio de jogos eletrônicos e vídeos. A NanoAventura foi desenvolvida em 2005 com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), dentre outras instituições.

Interesse por ciência
Em uma pesquisa recente sobre percepção pública da ciência realizada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) em nível nacional, apenas 4% dos entrevistados declararam ter visitado um centro ou museu de ciência em 2006. Porém, quando questionados sobre o interesse em ciência e tecnologia, os entrevistados revelaram que a ciência interessa mais (41% declaram ter muito interesse) do que política (20%) e moda (28%), e quase o mesmo tanto que esportes (47%). Os resultados mostram que há interesse, mas faltam iniciativas para promoção de museus e espaços de ciências - como o Catavento.

Outra pesquisa de percepção pública da ciência mais recente conduzida por um grupo de pesquisadores da UNICAMP coordenado por Carlos Vogt mostra que as pessoas que moram no Estado de São Paulo com idade maior que 35 anos têm duas vezes mais chances de serem interessadas em ciência e tecnologia do que quem tem entre 16 e 24 anos, ou seja, idade em que se decide o futuro profissional. O trabalho da UNICAMP, que foi financiado pela FAPESP, será publicado em breve, na terceira edição dos Indicadores de Ciência Tecnologia e Inovação da FAPESP.

Serviço - Catavento
Local: Palácio das Indústrias - Parque Dom Pedro II, centro
Visitação: De terça a domingo, das 9 horas às 17 horas (bilheteria fecha às 16 horas)
Idade: a partir dos 6 anos. Preço: R$ 6 e meia-entrada para estudantes e idosos
Acesso: estação do Metrô Pedro II e terminal de ônibus no Parque Dom Pedro II
Estacionamento/preço: capacidade para 200 carros. Até 3 horas (somente para visitantes do Catavento): R$ 8.
Mais informações no site: www.cataventocultural.org.br/mapas.asp/mapas.asp

Por Erica Guimarães e Sabine Righetti.

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