A importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento dos povos é muito clara ao longo da história da humanidade. Desde os primórdios de nossa existência as tribos que desenvolviam alguma técnica, como por exemplo, para produzir fogo, melhorar a eficiência da caça ou do plantio, apresentavam vantagens sobre outras e provavelmente puderam sobreviver a condições ambientais adversas. Isso só se tornou mais claro com o acúmulo do conhecimento produzido pela humanidade ao longo dos séculos, que iniciou seu apogeu com a Revolução Industrial e que perdura até os dias de hoje. Desde então, os países hegemônicos na ordem mundial são aqueles que desenvolvem e aplicam novos conhecimentos e tecnologias. Haja visto a Inglaterra, que no século XVIII e XIX era a maior potência do mundo devido a explosão das manufaturas e de sua frota marítima, frutos do desenvolvimento e detenção de novas tecnologias. Posteriormente, o cetro foi passado para os Estados Unidos da América, que passou mais da metade do século XX disputando com a antiga União Soviética a supremacia tecnológica e científica, como na corrida espacial.
Exemplos surpreendentes atuais são os países orientais como Japão, China e Coréia do Sul. O primeiro teve sua economia completamente destruída durante a segunda guerra mundial quando sofreu as terríveis bombas atômicas. Em algumas décadas, com o estímulo maciço sobre a educação e ciência, eles detêm a primazia tecnológica mundial junto aos EUA. A China, que provém de um regime socialista autoritário, o qual gerou o fechamento do país ao exterior e muita pobreza, hoje é a segunda economia mundial em franca ascendência, com um investimento pesado na educação, sendo que 92% de uma população de mais de um bilhão e trezentos milhões de pessoas são alfabetizados. A Coréia do Sul, em pouco mais de 40 anos, deixou para trás seu PIB per capita comparável ao dos países africanos em 1961 para ser um dos chamados Tigres Asiáticos, com um dos maiores PIB per capita do mundo. O que se deve também, entre outras coisas, ao investimento em educação, ciência e tecnologia.
O povo brasileiro, apesar de muito criativo, com o famoso “jeitinho brasileiro macunaímico” se desvia de qualquer pedra encontrada no meio do caminho das formas mais mirabolantes, porém é muito ignorante acerca da ciência em geral. Bem verdade, não só de ciência, mas de tudo relativo ao conhecimento formal: literatura, artes plásticas, política, geografia, economia e por aí vai. Ou seja, somos uma pedra rara em estado bruto. Seria maldade também não mencionar que outros países, mesmo com uma educação regular mais bem estruturada e difundida, também sofrem da mesma ignorância em relação à ciência. Um levantamento do Ministério de Ciência e Tecnologia feito em 2007, sobre a percepção pública acerca da ciência e tecnologia, demonstra que 57% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse sobre ciência e tecnologia. Quando perguntadas sobre a razão desse desinteresse, essas pessoas responderam que tinham dificuldade de compreensão sobre estes temas. Isso demonstra que essa desinformação e desinteresse não são problemas tão simples de se resolver. Há um estigma de que esses assuntos são inacessíveis para o cidadão comum. Inicialmente devemos quebrar esta idéia de que os temas são incompreensíveis. Além disso, a questão não é apenas informar as pessoas acerca das novidades científicas e tecnológicas. O desafio é maior ainda: mais do que saber o que está acontecendo, é importante que estes indivíduos sejam críticos em relação ao que ocorre, dada a relevância dos adventos tecnológicos e científicos para a sociedade. Apesar da grande discussão na mídia nos últimos tempos sobre poluição, conservação ambiental, energia nuclear, bomba atômica, transgênicos, células tronco, clonagem e bioética e de toda a importância acerca destes temas, pouquíssimas pessoas na sociedade estão preparadas para discutir estes assuntos.
Ainda estamos muito distantes do patamar em que a maioria da população se interessará por ciência e tecnologia e poderá discutir sobre os temas relevantes para a sociedade. Mas o Brasil já está avançando em alguns pontos. Nossa produção científica tem aumentado ao longo do tempo. Nos últimos dez anos houve um aumento de 133% no número de artigos científicos publicados em revistas especializadas. O investimento do ministério da Ciência e Tecnologia neste setor duplicou de 2000 a 2007. O investimento privado também aumentou neste período. Entretanto, isto ainda é pouco. Principalmente porque o apoio governamental, o mais significativo, apesar de ser maior em valor, foi menor em relação à porcentagem do PIB investida. A participação das indústrias ainda é ínfima se comparada aos países mais desenvolvidos, cuja principal fonte da verba para pesquisa provém de fundos privados. O governo Lula aumentou a contratação de professores nas Universidades públicas, assim como o número de vagas. Entretanto, mais vagas não significam maior qualidade. Também foi desenvolvido o biocombustível, que já é considerado uma iniciativa pioneira sobre as fontes de obtenção de energia, que se extinguirão em pouco tempo. Ainda sim, estamos longe de ser independentes do petróleo e gás natural. Resumindo, ainda temos muito o que fazer.
Apesar dessa dificuldade, há a clara noção de que a educação é necessária em todos os extratos sociais. Isso é demonstrado nas duas primeiras estrofes do belo poema “Ensinamento” de Adélia Prado: “Minha mãe achava estudo / a coisa mais fina do mundo.” É fato que todos os pais querem que seus filhos estudem. Mas é fato também que a educação deve ser revista. Tudo começa pelo ciclo básico. Há um excesso de conteúdo. Será ele necessário? Ou será melhor diminuir para que todos aprendam menos coisas, mas de fato aprendam? Há também o problema de que muitos jovens querem e precisam trabalhar cedo. Não seria melhor haver mais cursos técnicos? Por que não há técnicos de construção civil, cabeleireiro, bombeiros, padeiros etc? Há tecnologias nessas áreas para serem aprendidas. Também melhorariam nossos serviços, qualificariam nossos trabalhadores, empregariam nossos jovens. Além disso, a maioria das universidades do país possui os mesmos velhos cursos. Estes deveriam se atualizar perante as mudanças da sociedade. E há inúmeras áreas necessitando de trabalhadores qualificados, mas não existem cursos para formação dos profissionais. Novos tempos, novas necessidades. Muitos cursos são voltados para a carreira acadêmica. Mas nem todas as pessoas têm vocação para isto. Essas carreiras deveriam ser direcionadas para aqueles que têm vocação, já que o mercado de trabalho não absorve todo contingente formado a cada ano. A solução, assim como já é claramente demonstrado pelos países que dominam o cenário mundial hoje, é a educação. E o grande desafio é justamente o de educar verdadeiramente, com outros propósitos além de ter estatísticas fajutas.
A sociedade passou por diferentes fases tecnológicas: a agrícola, a industrial e, agora, a da informação. O crescimento do conhecimento científico hoje é exponencial e se difunde por todo mundo pela facilidade e rapidez dos meios de comunicação. Esse excesso de informação gerou várias modificações, não só no desenvolvimento científico e tecnológico, mas também na dinâmica do ensino e do trabalho. Há novas e prementes exigências, como as questões ambiental e climática, que necessitam de esforços para o desenvolvimento de tecnologias de reciclagem, preservação ambiental e novas formas de obtenção de energia. Esse passou a ser um desafio mundial, que vive esbarrando em questões políticas e econômicas. Mas não podemos fugir dele já que a sobrevivência da humanidade depende disso. O excesso populacional e a escassez dos recursos naturais exigem soluções. Só o desenvolvimento tecnológico e científico poderá resolver estas questões. Mais do que ter, o importante hoje é saber. O conhecimento agora tem um valor inestimável. Qualquer nação que fugir desta verdade estará fadada a entrar em franca decadência, pois será engolida por aqueles que detêm a tecnologia.
Por Maíra Valle.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário