quarta-feira, 25 de março de 2009

O Valor das idéias

Recentemente, em uma reunião com amigos, estivemos discutindo o valor das idéias, o que foi ressaltado em função daquelas idéias que não são levadas adiante, mas só permanecem na cabeça dos idealizadores.

Minha opinião era a de que sim, tem valor qualquer idéia, mesmo porque nem todos têm perfil empreendedor-argumento dos que não concordavam comigo-. Mas, confesso, eu não soube defender com propriedade qual era o valor, já que tais idéias não geram benefícios a quem quer que seja, e também porque eu me apoiei principalmente em exemplos de idéias do meu conhecimento.

Sendo assim, citei, por exemplo, uma idéia que tive há muito tempo atrás, sobre como seria útil se inventassem uma máquina de preencher cheques. Naquele tempo não havia tal máquina, e eu não usei de qualquer fonte de informação nem mesmo da literatura. Passados muitos anos, no entanto, tal máquina apareceu, e eu, orgulhosa, fiz questão de compartilhar tal notícia com quem, na época, ouviu e apreciou a “minha idéia”.

E daí, qual o valor desta idéia se, enquanto sua, você não levou adiante; o mérito é totalmente de quem a implementou, manifestou um dos discordantes.

E daí, concordei, que só quem implementa uma idéia tem, de fato, o mérito, mas que, antes de implementar há que se ter a idéia, se o idealizador tem ou não o perfil para a busca da transformação da mesma em realidade, isso é outro assunto, complementei. Além disso, cumpre citar, outras vezes, só a observação e o questionamento de um fato já revela uma idéia, que nem sempre é levada adiante e somente, e as vezes, repassadas ou encaminhadas a quem seja competente em explicar ou buscar a resposta do questionamento respectivamente.

Deste caso, por exemplo, eu citei que, ao observar um arco íris duplo, me incomodou o fato de a seqüência das cores de um e outro ser invertida, o que gerou um questionamento ou, portanto, uma idéia. Não sabendo o porque disto, enviei mensagens eletrônicas para diversos órgãos e meios de divulgação de pesquisa, inclusive, à revista FAPESP (http://www.revistapesquisa.fapesp.br/).

E indaguei sobre quem poderia dizer que não tem valor esta idéia, pois certamente alguém vai levar adiante este questionamento, que o estabelecerá como de valor, e neste caso, de valor científico, complementei. Assim somos: o escritor escreve, o pintor pinta, a costureira costura, o cientista investiga, etc...e, escrever, pintar, costurar e investir são formas, adequadas ao perfil de cada um, de transformar idéias.

Eu, por exemplo, sendo uma pesquisadora, logo que tenho uma idéia relativa à minha área de pesquisa, me empenho em buscar referências bibliográficas afins para, após análise da originalidade da mesma, e também pela consulta a parceiros de nível superior ao meu, e de acordo com meu nível de conhecimento, levar adiante a idéia, até conseguir revelar a mesma apta a ser publicada em revista científica-que é o equivalente a registrar patente no caso do empreendedor-, expliquei. Ainda que, nem sempre, sejam respeitados os direitos autorais...

Ninguém manifestou qualquer interesse no meu discurso, nem por elegância para a continuidade do mesmo, e mudamos de assunto!

E eu, ainda desolada pela interrupção do assunto, concluí “com meus botões”, ser este o papel da ciência e tecnologia no desenvolvimento nacional: acreditar que havendo idealizadores de diversas naturezas, há que se empenhar em gerar condições favoráveis para que os mesmos transformem suas idéias em realidade, em especial aquelas que possam trazer benefícios à nação.

Por Mariangela Amendola, matemática e professora na Unicamp.

Um comentário:

Felipe Augusto disse...

mto bom esse texto.. dá um nó na cabeça...
qta idéia!!!!!
parabéns...